por Meredith Mann
14 de novembro de 2014
Trechos traduzidos de New York Public Library
O Hamlet da Ubu traz algumas das ilustrações que Edward Gordon Craig fez à edição alemã do livro de 1930 publicada pela Cranach Press. Compartilhamos aqui um pouco sobre essa edição e as ilustrações.
A República de Weimar proporcionou um período criativamente fértil para a Alemanha do entreguerras, com a arte, o teatro, a música e a literatura passando por uma fase de ouro. Com a impressão de alta qualidade – que começou durante o Movimento de Artes e Ofícios no final do século XIX – não foi diferente, e talvez essa prática tenha chegado a seu ápice com a Cranach Press. Encabeçada pelo conde Harry Graf Kessler, um aristocrata e patrono das artes, a Cranach Press contava com a ajuda de uma rede internacional de artistas e estudiosos e produzia livros feitos à mão que funcionavam também como obras de arte. Um dos livros mais famosos da Cranach Press é uma edição de Hamlet.
A elegânica dessa edição de Hamlet provém de um projeto gráfico bonito e substancialmente evocativo que favorece a leitura. Para que isso acontecesse, Klesser sabia que as ilustrações da peça precisariam funcionar complementando o texto. Ele pediu a Edward Gordon Craig, xilógrafo, ator e cenógrafo, que fizesse as imagens na madeira.
Por que fazer eco à palavras [do autor] – como isso pode dar certo? Mas, ao mesmo tempo, se assim não fizer isso, como ilustrar o livro? – Edward Gordon Craig
Hamlet não era estranha a Craig – ele havia trabalhado há pouco na produção do cenário de uma adaptação da peça no Teatro de Arte de Moscou, e já considerava produzir sua própria edição do texto. Craig queria dar conta da falta de rubricas no texto original de Shakespeare ilustrando o cenário, as fantasias, a iluminação, e os movimentos dos atores. As pequenas figuras de madeira que ele havia feito para pensar o cenário do teatro em Moscou se tornaram base para a edição da Cranach Press.


Ao longo de sua carreira dramática, Craig tendeu ao minimalismo, acreditando que o teatro poderia ser reduzido a forma, luz, movimento e música. Sua ilustrações de Hamlet o libertaram das amarras do custo, do espaço, e da realidade física, permitindo que ele mostrasse esses elementos de uma forma mais pura […].



Além de bonitas, as ilustrações de Craig também se relacionam com o texto de maneira a guiar o leitor pela peça. Ecoando a filosofia da escola Bauhaus, que influenciou e integrou diferentes universos artísticos da época, Kessler e Craig tomaram o cuidado de fazer com que a forma e o conteúdo de Hamlet estivessem conectados. As ilustrações são posicionadas próximas às marcações de entrada e saída de cena, chamando atenção para as mudanças de personagens. Iniciais decoradas são reservadas a personagens periféricos: Bernardo e Francisco na cena de abertura, e os coveiros em Ato V, cena 1.

Além de facilitar a compreensão do contexto, Kessler e Craig também fizeram com que o layout do livro causasse impacto emocional. Isso se dá, por exemplo, através de motivos repetidos. A famosa frase “Ser ou não ser” é marcada por uma imagem de Hamlet confrontando as águas turbulentas do sono e da morte. Imagem semelhante aparece no trecho da morte de Polônio, o que cria um paralelo entre mortalidade e ação moral. Na primeira ilustração, Hamlet se inclina para trás com as mãos levantadas: hesitante e contemplativo. Na segunda, ele se inclina para frente, resignado com as consequências de suas ações.

Como muitas casas de impressão privadas da época, Kessler procurou honrar a tradição em Hamlet com o uso da fonte gótica, o layout em colunas, e um esquema de cores preto-e-branco com uma terceira cor de destaque – laranja, neste caso, mais um único uso impressionante de azul. No entanto, as ilustrações são distintamente modernas […].
Para ler o texto original clique aqui.
A maioria das ilustrações de Edward Gordon Craig são marcadas por linhas feitas com estes blocos:

Como a imagem de capa da edição da Ubu:

Outros exemplos são:


Essa edição de Hamlet, com as ilustrações de EGC, foi impressa em tipografia. Selecionamos fotos do processo que estão disponíveis na Klassik Stiftung Weimar:








Fontes:
New York Public Library
American Printing History Association
Klassik Stiftung Weimar