Em 1897, Euclides da Cunha foi convidado pelo jornal O Estado de S. Paulo para fazer uma reportagem sobre a rebelião de Canudos, que resultou na obra Os sertões. O registro detalhado das características naturais do lugar serviu de inspiração para o projeto gráfico.
Euclides estudou na Escola Militar e logo percebeu que o conhecimento do relevo foi fundamental para a resistência dos jagunços, que surpreendeu as autoridades. A importância do ambiente para o autor é revelada pelas anotações em suas cadernetas, pela escolha de abrir Os sertões com o capítulo “A terra” e, sobretudo, por seu olhar influenciado por teorias deterministas, que buscam nas leis da natureza explicações para as diferenças culturais entre os homens.
Assim, segundo Flávia Castanheira, autora do projeto em parceria com Nathalia Cury, o olhar cientificista de Euclides, que mapeou a região de Canudos minuciosamente, fez com que a linguagem cartográfica fosse a principal referência para o design desta edição.
Mapas topográficos da região estampam a caixa, a capa e a abertura do livro; a cada passagem a escala se amplia e o leitor se aproxima de Canudos.
As margens têm marcações que lembram as escalas gráficas e ajudam a situar o leitor nas três principais divisões da obra: “A terra”, “O homem” e “A luta”.
Quadrantes cartográficos organizam as aberturas de cada seção e a capa do volume Variantes e comentários. Esse grid dá a modulação que alinhava todos os elementos das páginas, inclusive a contagem das linhas, necessária em uma edição crítica. No capítulo de imagens, essa estrutura se subdivide e acompanha o quadriculado da caderneta de Euclides da Cunha.
Levando em consideração o manuseio do livro, a capa foi feita com um papelão mais fino, para evitar que ficasse muito pesado, e ambos volumes têm um fitilho para marcar a página – tudo para tornar a experiência da leitura mais confortável. E tem ainda o detalhe dos cantos arredondados que, além de mais amigáveis, são mais resistentes.
O acompanhamento da impressão e da montagem do livro também é uma etapa fundamental para garantir que tudo sairá exatamente como previsto. Quem tomou conta de todo o processo na Geográfica e fez os vídeos abaixo foi a produtora Aline Valli.
Cada capa foi impressa em serigrafia, processo no qual a tinta passa por uma tela vazada “gravada” pelo processo de fotossensibilidade: os pontos escuros corresponderão aos locais que ficarão vazados na tela, permitindo a passagem da tinta, e os pontos claros, impermeabilizados pela emulsão, não permitirão a passagem da tinta.
As fotos foram impressas em duotone. Cada folha corresponde a 32 páginas do livro e constitui um de seus cadernos, que são costurados à máquina.
Na rotina da gráfica a densidade da tinta é medida periodicamente e comparada à densidade das provas das imagens usadas como referência. Isso garante a estabilidade das cargas das tintas durante a impressão.
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